O sistema digestório humano é formado por um longo
tubo musculoso, ao qual estão associados órgãos e glândulas que participam da
digestão. Apresenta as seguintes regiões: boca, faringe, esôfago, estômago,
intestino delgado, intestino grosso e ânus.
A parede do tubo digestivo, do esôfago ao
intestino, é formada por quatro camadas: mucosa, submucosa, muscular e
adventícia.
BOCA
A abertura pela qual o alimento entra no tubo
digestivo é a boca. Aí encontram-se os dentes e a língua, que preparam o
alimento para a digestão, por meio da mastigação. Os dentes reduzem os
alimentos em pequenos pedaços, misturando-os à saliva, o que irá facilitar a
futura ação das enzimas.
Os dentes são estruturas duras, calcificadas,
presas ao maxilar superior e mandíbula, cuja atividade principal é a
mastigação. Estão implicados, de forma direta, na articulação das
linguagens. Os nervos sensitivos e os vasos sanguíneos do centro de
qualquer dente estão protegidos por várias camadas de tecido. A mais externa, o
esmalte, é a substância mais dura. Sob o esmalte, circulando a polpa, da
coroa até a raiz, está situada uma camada de substância óssea
chamada dentina. A cavidade pulpar é ocupada pela polpa dental, um
tecido conjuntivo frouxo, ricamente vascularizado e inervado. Um tecido duro
chamado cemento separa a raiz do ligamento Peri dental, que prende a raiz
e liga o dente à gengiva e à mandíbula, na estrutura e composição química
assemelha-se ao osso; dispõe-se como uma fina camada sobre as raízes dos
dentes. Através de um orifício aberto na extremidade da raiz, penetram vasos
sanguíneos, nervos e tecido conjuntivo.
Em sua primeira dentição, o ser humano tem 20 peças
que recebem o nome de dentes de leite. À medida que os maxilares crescem, estes
dentes são substituídos por outros 32 do tipo permanente. As coroas dos dentes
permanentes são de três tipos: os incisivos, os caninos ou presas e os molares.
Os incisivos têm a forma de cinzel para facilitar o corte do alimento. Atrás
dele, há três peças dentais usadas para rasgar. A primeira tem uma única
cúspide pontiaguda. Em seguida, há dois dentes chamados pré-molares, cada um
com duas cúspides. Atrás ficam os molares, que têm uma superfície de mastigação
relativamente plana, o que permite triturar e moer os alimentos.
A língua
A língua movimenta o alimento
empurrando-o em direção a garganta, para que seja engolido. Na superfície da
língua existem dezenas de papilas gustativas, cujas células sensoriais percebem
os quatro sabores primários: amargo (A), azedo ou ácido (B), salgado (C) e doce
(D). De sua combinação resultam centenas de sabores distintos. A distribuição
dos quatro tipos de receptores gustativos, na superfície da língua, não é
homogênea.
A presença de alimento na boca, assim como sua
visão e cheiro, estimulam as glândulas salivares a secretar saliva, que contém
a enzima amilase salivar ou ptialina, além de sais e outras
substâncias. A amilase salivar digere o amido e outros polissacarídeos (como o
glicogênio), reduzindo-os em moléculas de maltose (dissacarídeo). Três pares de
glândulas salivares lançam sua secreção na cavidade bucal: parótida,
submandibular e sublingual:
- Glândula parótida - Com massa variando entre 14 e 28 g, é a
maior das três; situa-se na parte lateral da face, abaixo e adiante do
pavilhão da orelha.
- Glândula submandibular - É arredondada, mais ou menos do tamanho de
uma noz.
- Glândula sublingual - É a menor das três; fica abaixo da mucosa
do assoalho da boca.
As glândulas salivares
O sais da saliva neutralizam substâncias ácidas e
mantêm, na boca, um pH neutro (7,0) a levemente ácido (6,7), ideal para a ação
da ptialina. O alimento, que se transforma em bolo alimentar, é empurrado pela
língua para o fundo da faringe, sendo encaminhado para o esôfago, impulsionado
pelas ondas peristálticas (como mostra a figura do lado esquerdo), levando
entre 5 e 10 segundos para percorrer o esôfago. Através dos peristaltismo, você
pode ficar de cabeça para baixo e, mesmo assim, seu alimento chegará ao
intestino. Entra em ação um mecanismo para fechar a laringe, evitando que o
alimento penetre nas vias respiratórias.
Quando a cárdia (anel muscular, esfíncter) se
relaxa, permite a passagem do alimento para o interior do estômago.
FARINGE E ESÔFAGO
A faringe, situada no final da cavidade bucal, é um
canal comum aos sistemas digestório e respiratório: por ela passam o alimento,
que se dirige ao esôfago, e o ar, que se dirige à laringe.
O esôfago, canal que liga a faringe ao estômago,
localiza-se entre os pulmões, atrás do coração, e atravessa o músculo
diafragma, que separa o tórax do abdômen. O bolo alimentar leva de 5 a 10
segundos para percorre-lo.
ESTÔMAGO E SUCO GÁSTRICO
O estômago é uma bolsa de parede
musculosa, localizada no lado esquerdo abaixo do abdome, logo abaixo das
últimas costelas. É um órgão muscular que liga o esôfago ao intestino delgado.
Sua função principal é a digestão de alimentos protéicos. Um músculo circular,
que existe na parte inferior, permite ao estômago guardar quase um litro e meio
de comida, possibilitando que não se tenha que ingerir alimento de pouco em
pouco tempo. Quando está vazio, tem a forma de uma letra "J"
maiúscula, cujas duas partes se unem por ângulos agudos.
Segmento superior: é o mais volumoso, chamado "porção vertical". Este
compreende, por sua vez, duas partes superpostas; a grande tuberosidade, no
alto, e o corpo do estômago, abaixo, que termina pela pequena tuberosidade.
Segmento inferior: é denominado "porção horizontal", está separado do duodeno
pelo piloro, que é um esfíncter. A borda direita, côncava, é chamada pequena
curvatura; a borda esquerda, convexa, é dita grande curvatura. O orifício
esofagiano do estômago é o cárdia.
As túnicas do estômago: o estômago compõe-se
de quatro túnicas; serosa (o peritônio), muscular (muito desenvolvida),
submucosa (tecido conjuntivo) e mucosa (que secreta o suco gástrico). Quando
está cheio de alimento, o estômago torna-se ovóide ou arredondado. O estômago
tem movimentos peristálticos que asseguram sua homogeneização.
O estômago produz o suco gástrico, um líquido
claro, transparente, altamente ácido, que contêm ácido clorídrico, muco,
enzimas e sais. O ácido clorídrico mantém o pH do interior do estômago entre
0,9 e 2,0. Também dissolve o cimento intercelular dos tecidos dos alimentos,
auxiliando a fragmentação mecânica iniciada pela mastigação.
A pepsina, enzima mais potente do suco gástrico, é
secretada na forma de pepsinogênio. Como este é inativo, não digere as células
que o produzem. Por ação do ácido cloródrico, o pepsinogênio, ao ser lançado na
luz do estômago, transforma-se em pepsina, enzima que catalisa a digestão de
proteínas.
A pepsina, ao catalizar a hidrólise de proteínas,
promove o rompimento das ligações peptídicas que unem os aminoácidos. Como nem
todas as ligações peptídicas são acessíveis à pepsina, muitas permanecem
intactas. Portanto, o resultado do trabalho dessa enzima são oligopeptídeos e
aminoácidos livres.
A renina, enzima que age sobre a caseína, uma
das proteínas do leite, é produzida pela mucosa gástrica durante os primeiros
meses de vida. Seu papel é o de flocular a caseína, facilitando a ação de
outras enzimas proteolíticas.
A mucosa gástrica é recoberta por uma camada de
muco, que a protege da agressão do suco gástrico, bastante corrosivo. Apesar de
estarem protegidas por essa densa camada de muco, as células da mucosa
estomacal são continuamente lesadas e mortas pela ação do suco gástrico. Por
isso, a mucosa está sempre sendo regenerada. Estima-se que nossa superfície
estomacal seja totalmente reconstituída a cada três dias. Eventualmente ocorre
desequilíbrio entre o ataque e a proteção, o que resulta em inflamação difusa
da mucosa (gastrite) ou mesmo no aparecimento de feridas dolorosas que sangram
(úlceras gástricas).
A mucosa gástrica produz também o fator intrínseco,
necessário à absorção da vitamina B12.
O bolo alimentar pode permanecer no estômago por
até quatro horas ou mais e, ao se misturar ao suco gástrico, auxiliado pelas
contrações da musculatura estomacal, transforma-se em uma massa cremosa
acidificada e semilíquida, o quimo.
Passando por um esfíncter muscular (o piloro), o
quimo vai sendo, aos poucos, liberado no intestino delgado, onde ocorre a maior
parte da digestão.
O intestino delgado é um tubo com pouco mais de 6 m
de comprimento por 4cm de diâmetro e pode ser dividido em três regiões: duodeno
(cerca de 25 cm), jejuno (cerca de 5 m) e íleo (cerca de 1,5 cm).
A porção superior ou duodeno tem a forma de ferradura e compreende o piloro, esfíncter muscular da parte inferior do estômago pela qual este esvazia seu conteúdo no intestino.
A porção superior ou duodeno tem a forma de ferradura e compreende o piloro, esfíncter muscular da parte inferior do estômago pela qual este esvazia seu conteúdo no intestino.
A digestão do quimo ocorre predominantemente no
duodeno e nas primeiras porções do jejuno. No duodeno atua também o suco
pancreático, produzido pelo pâncreas, que contêm diversas enzimas digestivas.
Outra secreção que atua no duodeno é a bile, produzida no fígado e armazenada
na vesícula biliar. O pH da bile oscila entre 8,0 e 8,5. Os sais biliares têm
ação detergente, emulsificando ou emulsionando as gorduras (fragmentando suas
gotas em milhares de microgotículas).
O suco pancreático, produzido pelo pâncreas, contém
água, enzimas e grandes quantidades de bicarbonato de sódio. O pH do suco
pancreático oscila entre 8,5 e 9. Sua secreção digestiva é responsável pela
hidrólise da maioria das moléculas de alimento, como carboidratos, proteínas,
gorduras e ácidos nucléicos.
A amilase pancreática fragmenta o amido em
moléculas de maltose; a lípase pancreática hidrolisa as moléculas de um tipo de
gordura – os triacilgliceróis, originando glicerol e álcool; as nucleases atuam
sobre os ácidos nucléicos, separando seus nucleotídeos.O suco pancreático
contém ainda o tripsinogênio e o quimiotripsinogênio, formas inativas em que
são secretadas as enzimas proteolíticas tripsina e quimiotripsina. Sendo
produzidas na forma inativa, as proteases não digerem suas células secretoras.
Na luz do duodeno, o tripsinogênio entra em contato com a enteroquinase, enzima
secretada pelas células da mucosa intestinal, convertendo-se me tripsina, que
por sua vez contribui para a conversão do precursor inativo quimiotripsinogênio
em quimiotripsina, enzima ativa.
A tripsina e a quimiotripsina hidrolisam
polipeptídios, transformando-os em oligopeptídeos. A pepsina, a tripsina e a
quimiotripsina rompem ligações peptídicas específicas ao longo das cadeias de
aminoácidos.
A mucosa do intestino delgado secreta o suco
entérico, solução rica em enzimas e de pH aproximadamente neutro. Uma dessas
enzimas é a enteroquinase. Outras enzimas são as dissacaridades, que hidrolisam
dissacarídeos em monossacarídeos (sacarase, lactase, maltase). No suco entérico
há enzimas que dão seqüência à hidrólise das proteínas: os oligopeptídeos
sofrem ação das peptidases, resultando em aminoácidos.
Os nutrientes absorvidos pelos vasos sanguíneos do
intestino passam ao fígado para serem distribuídos pelo resto do organismo. Os
produtos da digestão de gorduras (principalmente glicerol e ácidos graxos
isolados) chegam ao sangue sem passar pelo fígado, como ocorre com outros
nutrientes. Nas células da mucosa, essas substâncias são reagrupadas em
triacilgliceróis (triglicerídeos) e envelopadas por uma camada de proteínas,
formando os quilomícrons, transferidos para os vasos linfáticos e, em seguida,
para os vasos sangüíneos, onde alcançam as células gordurosas (adipócitos),
sendo, então, armazenados.
É o local de absorção de água, tanto a ingerida
quanto a das secreções digestivas. Uma pessoa bebe cerca de 1,5 litros de
líquidos por dia, que se une a 8 ou 9 litros de água das secreções. Glândulas
da mucosa do intestino grosso secretam muco, que lubrifica as fezes,
facilitando seu trânsito e eliminação pelo ânus.
Mede cerca de 1,5 m de comprimento e divide-se em
ceco, cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente, cólon sigmóide e
reto. A saída do reto chama-se ânus e é fechada por um músculo que o rodeia, o
esfíncter anal.
Numerosas bactérias vivem em mutualismo no
intestino grosso. Seu trabalho consiste em dissolver os restos alimentícios não
assimiláveis, reforçar o movimento intestinal e proteger o organismo contra
bactérias estranhas, geradoras de enfermidades.
As fibras vegetais, principalmente a celulose, não
são digeridas nem absorvidas, contribuindo com porcentagem significativa da
massa fecal. Como retêm água, sua presença torna as fezes macias e fáceis de serem
eliminadas.
O intestino grosso não possui vilosidades nem
secreta sucos digestivos, normalmente só absorve água, em quantidade bastante
consideráveis. Como o intestino grosso absorve muita água, o conteúdo
intestinal se condensa até formar detritos inúteis, que são evacuados.
GLÂNDULAS ANEXAS
Pâncreas
O pâncreas é uma glândula mista, de mais ou menos
15 cm de comprimento e de formato triangular, localizada transversalmente sobre
a parede posterior do abdome, na alça formada pelo duodeno, sob o estômago. O
pâncreas é formado por uma cabeça que se encaixa no quadro duodenal, de um
corpo e de uma cauda afilada. A secreção externa dele é dirigida para o duodeno
pelos canais de Wirsung e de Santorini. O canal de Wirsung desemboca ao lado do
canal colédoco na ampola de Vater. O pâncreas comporta dois órgãos estreitamente
imbricados: pâncreas exócrino e o endócrino.
O pâncreas exócrino produz enzimas digestivas, em
estruturas reunidas denominadas ácinos. Os ácinos pancreáticos estão ligados
através de finos condutos, por onde sua secreção é levada até um condutor
maior, que desemboca no duodeno, durante a digestão.
O pâncreas endócrino secreta os hormônios insulina
e glucagon, já trabalhados no sistema endócrino.
Fígado
É o maior órgão interno, e é
ainda um dos mais importantes. É a mais volumosa de todas as vísceras, pesa
cerca de 1,5 kg no homem adulto, e na mulher adulta entre 1,2 e 1,4 kg. Tem cor
arroxeada, superfície lisa e recoberta por uma cápsula própria. Está situado no
quadrante superior direito da cavidade abdominal.
O tecido hepático é constituído por formações
diminutas que recebem o nome de lobos, compostos por colunas de células
hepáticas ou hepatócitos, rodeadas por canais diminutos (canalículos), pelos
quais passa a bile, secretada pelos hepatócitos. Estes canais se unem para
formar o ducto hepático que, junto com o ducto procedente da vesícula biliar,
forma o ducto comum da bile, que descarrega seu conteúdo no duodeno.
As células hepáticas ajudam o sangue a assimilar as
substâncias nutritivas e a excretar os materiais residuais e as toxinas, bem
como esteróides, estrógenos e outros hormônios. O fígado é um órgão muito
versátil. Armazena glicogênio, ferro, cobre e vitaminas. Produz carboidratos a
partir de lipídios ou de proteínas, e lipídios a partir de carboidratos ou de
proteínas. Sintetiza também o colesterol e purifica muitos fármacos e muitas
outras substâncias. O termo hepatite é usado para definir qualquer inflamação
no fígado, como a cirrose.
Funções do fígado:
- Secretar a bile, líquido que atua no
emulsionamento das gorduras ingeridas, facilitando, assim, a ação da
lipase;
- Remover moléculas de glicose no sangue,
reunindo-as quimicamente para formar glicogênio, que é armazenado; nos
momentos de necessidade, o glicogênio é reconvertido em moléculas de
glicose, que são relançadas na circulação;
- Armazenar ferro e certas vitaminas em suas
células;
- Metabolizar lipídeos;
- Sintetizar diversas proteínas presentes no
sangue, de fatores imunológicos e de coagulação e de substâncias
transportadoras de oxigênio e gorduras;
- Degradar álcool e outras substâncias tóxicas,
auxiliando na desintoxicação do organismo;
- Destruir hemácias (glóbulos vermelhos) velhas
ou anormais, transformando sua hemoglobina em bilirrubina, o pigmento
castanho-esverdeado presente na bile.
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